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É uma tarde
leve, e uma brisa fresca e um sol acolhedor poderiam chegar para não pensar em
mais nada, mas lá fora viaja uma folha vermelha, uma folha pequenina na qual
ninguém repara pois a vida apesar de algo magnífico é muito curta para que
alguns a possam apreciar. Reparem nela… O próprio sol deu-lhe um pouco da sua
luz como de propósito por a estar a observar. Num momento repentino ela desce
por entre as árvores e passa rente por entre os seus troncos como se os tivesse
a desafiar, e então como se de um milagre se tratasse ela volta ao de cima
passando por entre as copas de ramos que com o vento a saúdam. É lindo… ela
voa, viaja,… mas ninguém lhe pergunta o que viu ou para onde vai. Está
completamente sozinha, e mesmo nós quando lhe tirarmos os olhos de cima se no
segundo a seguir ela arder completamente, a mais pura e triste das verdades, é
que, não sentiremos a sua falta. Provavelmente será assim até o vento deixar de
soprar para ela e a pequena folha cair no chão e deixar que a pisem; os seus
ruídos serão então as histórias dos lugares por onde passou. Mas é ela que
agora me observa. Passa por mim e eu continuo em frente no meu próprio caminho,
uma rua de xisto improvisada por uma pequena vila. Apressava-me, lutando contra
o tempo que dentro de poucas horas faria escurecer. Poderia fazer aquele
caminho com uma venda posta só que quando alguém nos espera é sempre bom ter o
sol nas costas para dar a impressão de que não demorámos muito tempo a voltar.
Com uma pequena visão da vila fui abrandando o passo e não tardei a passar o
posto de vigia que ficava numa das colinas atravessadas pelas pequenas muralhas
á volta de um inexistente castelo. Podia ver praticamente toda a vila dali. Todos os seus habitantes
pareciam atarefados, mas aquele era um lugar pequeno e havia no esforço das
pessoas alegria e uma sensação de dever feito, pois sabiam bem que os seus
esforços serviriam para se ajudarem uns aos outros. O guarda da vigia
cumprimentou-me e apesar de toda a ansiedade que sentia para chegar o mais
depressa possível, continuei a andar normalmente com o peito demasiado cheio de
infinitas coisas que não me deixavam respirar quanto mais decidir a minha
jornada. Uma parte de mim queria sair dali. Observei o brilho da relva que despontava
ao longo das casas. Os campos naquele ano pareciam ter crescido bem. Fiquei
algum tempo ali a pensar. Mas depois comecei a correr e a correr, ainda eu não
tinha escolhido o meu destino. Acho que fora algo que ninguém me deu
possibilidade de escolha. Este parecia que me conseguiria esconder da realidade
e isso era algo que eu aceitaria às custas da minha vida. Corri ainda mais;
apercebi-me de que tinha chegado a casa…
Tátá