quinta-feira, 28 de março de 2013

3º " O Coração das Sombras


Depois de atravessarmos aquele grande jardim avistámos umas escadas brancas de mármore que davam para umas grandes portas de madeira adornadas com efeitos dourados. Toda a mansão era branca e ao fundo das escadas a visão de qualquer pessoa ficaria turva com tamanha beleza! Eu apenas ficara habituado a apreciar aquela casa forte que resplandecia quase orgulhosamente, quando na verdade toda a sua estrutura, com a exceção da entrada, era de uma beleza que cercava o elementar. As fachadas das janelas e uma grande varanda ampla que pertencia à sala no andar de cima, logo em cima das portas de entrada eram quase tudo o que adornava à primeira vista a casa. Mas o que a revestia e lhe dava um aspeto original e único era uma trepadeira de flores de seda, bem cuidada de forma a não se emaranhar nem nas portas e janelas e alguns desenhos repletos de curvas singulares e outros traços que todos juntos se pareciam fundir às folhas verdes escuras como se fossem o dourado do próprio sol que elas possuíam.
Entrar naquela casa foi uma como uma provação: sentia-me aliviado, tanto que chegava a ser assustador. Era como se precisasse de me agarrar às paredes para não sucumbir numa enorme espiral negra que me embalaria tão suavemente que o meu terror vinha ao de cima por não saber se poderia; conseguiria escapar dela. Bastava um segundo sequer de completa serenidade para que eu começasse a divagar por entre os meus pensamentos. Era preciso olhar para a realidade; «que esta estivesse à minha frente» foi o maior dos meus desejos. Os pensamentos e especulações de um Homem tornam-se verdadeiramente assustadores no momento em que nos apercebemos de que não conseguimos olhar nos olhos da imagem refletida no espelho…
 Lancei o meu olhar para as paredes do interior da casa. Ao entrar a primeira reação de uma pessoa seria espanto. Ao contrário do exterior e da sua beleza clara, dentro da mansão o brilho de diversos quadros, candelabros, móveis e outras obras de arte inundavam-na, deixando-a requintada e graciosa. Era-nos claro o contraste que existia entre as duas partes da mansão, bem como brusca a miragem do que nos parecia ser, o refúgio do Homem e de todas as excentricidades e excessos que com ele andam. Bem, não havia escolha. O senhor da casa sempre gostou de encarar os jogos e desafios que a sociedade excluía, na sua tentativa vacilante de se tornar mais perfeita. De repente a Madame Luísa chamou-me a atenção a algo, despertando-me do meu reconhecimento meticuloso. Foi com um sorriso tonto que reparei num mordomo que limpava uma jarra enfeitada com um pano. Por um momento ele olhou para mim com um ar abismado, como se visse um fantasma. Mas o seu rosto depressa se abriu num sorriso que teria sido impossível conter. Olhou bem para mim.
- Como pôde demorar tanto? Faz ideia de como a Madame estava preocupada consigo? – a maneira como escondia o riso tornava a sua fala muito menos rígida.
Tinha a cara vermelha de emoção mas não se permitiu a chorar. Abraçou-me fortemente e o toque levou-me uma lembrança.