A vila era
pequena e servia como ponto de abastecimento de uma linha de comboios. Poderia
ter desembarcado logo ali, mas sentira uma necessidade muito grande de a ver ao
longe. Tinha vastos campos que agora dourados ao fim da tarde pareciam mesmo
ter roubado a luz do sol. Passei por eles agora concentrado no meu dever que
era chegar antes que a noite assombra-se as ruas. Não sabia se durante todo
aquele tempo eles esperavam a minha pessoa ou uma carta… Estava abafado e ao
passar pelas calçadas brancas que se encontravam junto á estação uma sonolência
e silêncio apoderava-se daqueles que por ali andavam deixando até que ao longe
se ouvissem os ponteiros do relógio que sempre certos diziam o tempo que é a
única grandeza dos homens apressados. O polícia que andava pelas ruas
cumprimentava as senhoras que agora iam fechando os mercados e arrumando as
tendas para que quando o sol despontasse de novo começassem a gritar os
incríveis preços aos que a população há muito estava habituada. Continuei a
andar. As laranjeiras plantadas nos caminhos emanavam um cheiro calmo e tudo
parecia tranquilo sem ninguém se ter apercebido do meu retorno. Não os culpei.
No tempo em que estive ausente não me importara com aparências. O meu cabelo
crescera cobrindo-me o pescoço, apenas tomara um duche com uma mangueira e as
minhas roupas estavam como as de um mendigo, principalmente o sobretudo preto
que me cobria. Senti um puxão no ombro e olhei para trás. Vi uma senhora com
uma cara rechonchuda e já alguns cabelos brancos que me olhava franzindo a
testa com os óculos pendurados.
- É o menino… Oh
meu deus… é,… é o menino!- exclamou.
Sem se importar muito com o meu cheiro, ou
barba por fazer, abraçou-me o pescoço com um braço enquanto afagava os meus
cabelos, já despenteados, com o outro. Como era baixinha tive que me curvar e
pendurar o meu queixo no pescoço dela enquanto ela muito emocionada falava já
aos tropeções, á medida que toda a sua lógica se perdia. Eu apenas olhava para
o chão onde se encontrava o cesto com as compras tombado, talvez tão confuso
como eu.
- Mas, não disse
nada… Olhe-me para esta vestimenta! Não nos avisou… Depressa temos que voltar a
casa. Toda a gente tem estado preocupada. Tem que tomar um banho… olhe-me
este cabelo todo! Como está magro meu Deus. Ai se o senhor o visse nesse
estado, nem sei como ficaria…
Agarrou-me a mão
e arrastou-me até casa. Sentia-me como um rapaz a ser levado depois de ter
feito uma asneira qualquer e ter ficado sujo. Não deixava de ser uma situação
engraçada… Aquela senhora era a Madame Luísa. Reconhecera-a pela voz terna e
preocupada que ela muitas vezes me dirigia. Também o modo atrapalhado com que
ficava ao ver-me magoado me era familiar. Era a governanta da casa para onde me
levava e para a qual há poucos momentos eu me dirigia silencioso e preocupado. Talvez
se fosse alguém a levar-me, a mostrar-me aonde eu pertencia, tudo ficasse mais
fácil. Fora ela que me criara como mãe quando fui trazido para aquela mansão
com seis anos. Sempre fora carinhosa e preocupada apesar de ser contra a
política de fechar uma criança em casa, sem que nunca apreciá se as ruas da
vila e brincasse com os outros rapazinhos. Infelizmente para ela nunca me dei
bem com a maioria dos rapazes da minha idade e quando saía ou era para ir às compras com a
Madame, dar passeios com o senhor ou sentar-me ao pé das laranjeiras a ler.
Começámos a subir a encosta aonde as casas desapareciam para dar origem a um
jardim alguns metros à frente. Quando se entrava, ao olhar para as rosas de
todas as cores, e os repuxos de mármore,... sabia-se que se tinha entrado na casa
do homem mais rico, não só da Vila mas talvez da cidade.
Tátá
Tátá
Muitos parabéns, Joana! Tens muito jeito para escrever! Fico ansiosa por saber a continuação da história.
ResponderEliminarEntretanto, quis partilhar contigo um post que escrevi a propósito da temática do nazismo. É uma história verídica, que me foi contada na primeira pessoa! Beijinhos (e continua a escrever...)
http://oculosdomundo.blogspot.pt/2009/11/uma-historia-de-vida.html
olá eu sou a joana e, pelo que li, gostei bastante da tua história, e também fiz um blogue com uma espécie de livro que estou a começar a escrever, e gostava que, quando pudesses visses o meu, por favor.
ResponderEliminarAgradeço o vosso tempo e comentários. Nem sabem como gosto de ouvir as vossas críticas. Tenho que me conter para não dar saltos de alegria. (comoção de principiante)
ResponderEliminarPara a joana Carvalho: lamento, mas eu encontro-me em guerra constante com o funcionamento da Internet. Por favor diz-me o nome do blogue ou dá-me a URL para que eu possa ir lá meter o nariz! (estou muito curiosa)
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